sábado, 28 de agosto de 2010

Transportes para o povo

Paga e não bufa

Era inevitável que, tendo vendido o meu último veiculo de motor de combustão interna, não pudesse depender inteiramente da bicicleta e acabasse por ter de recorrer algumas vezes aos transportes públicos. Tal como no caso do automóvel, nada me move contra os transportes públicos, e sou muito consciente da nossa mania portuguesa de dizer mal de tudo, que é afinal muito mais fácil do que fazer criticas construtivas e apontar soluções edificantes. 

Mesmo assim, este reencontro mais intenso com os autocarros, o metro e o comboio deixaram-me com  um ligeiro amargo de boca. Do metro de Lisboa não posso dizer nada de mal, pelo contrário. O comboio da linha de Cascais acho caro, mas também cumpre e tem a grande vantagem de permitir o transporte de bicicletas sem restrições dignas de nota. Mas os autocarros... Sejam da Vimeca, Scotturb ou até da Carris... Haja paciência! Na maioria conduzidos por Schumachers frustrados, os autocarros de carreiras suburbanas são um pequeno mundo aparte, onde a máxima que impera parece ser o "para quem é, bacalhau basta".

A coisa começa pelos atrasos, é pelo menos para mim um pouco irritante esperar em pé numa paragem algures, enquanto a hora prevista passa e do autocarro nem sinal. Depois, à chegada do peso pesado, temos de ter o cuidado de não ser atropelados por ele, é que os motoristas adoram fazer razias a toda a gente, utentes incluídos. Depois vem a surpresa do custo: 3,60 EUR parece ser o preço padrão para um bilhete comprado a bordo das transportadoras privadas, para cobrir algum tipo de distância significativa (+ 5 km). Por esse dinheiro, fica mais barato ir de carro, mesmo tendo em conta aquelas despesas que os automobilistas raramente contabilizam. Não admira que muita gente o faça.

E se acham que os autocarros são modernos e confortáveis, bom, têm alguma razão. Infelizmente, mesmo quando dispõem de ar condicionado, por algum motivo este quase nunca está ligado e, mais uma vez, a condução "desportiva" e o habitual clima de guerrilha das nossas estradas retiram grande parte do conforto e tranquilidade destas viagens. Acabo sempre por me sentir como gado, bem antes de chegar ao destino. Atenção também à saída do veiculo, embora seja irregular e ilegal, há motoristas que param o autocarro em sítios perigosos, fazendo os passageiros sair para meio de um cruzamento ou encima de obras. Há também a hipótese de ficar entalado na porta, o autocarro não chega a horas a lado nenhum, mas o condutor tem sempre muita pressa.

Felizmente há, quase sempre, outras opções. Ora, onde é que eu deixei a bicicleta?

6 comentários:

  1. Em relação ao preço, há que ter em conta que um bilhete isolado custa sempre muito mais os pré-comprados ou o passe. O transporte público é para a esmagadora maioria dos utilizadores, o seu meio de transporte regular, pelo que os bilhetes de assinatura são sempre mais apelativos.
    Quando a rede sub-urbana de transportes rodóviários foi entregue a concessionários privados e a Rodoviária Nacional desmantelada, muitas vozes se levantaram a alertar para a perda de qualidade de serviço e o maior custo a pagar pelos utilizadores. Pelos vistos, infelizmente essas vozes não só não foram escutados como as previsões pessimistas confirmaram-se!
    Os baixos salários praticados nessas empresas e a percaridade do emprego, reflecte-se de forma perigosa na forma como muitos motoristas conduzem centenas de passageiros por dia.
    Julgo que o serviço oferecido no perímetro da cidade de Lisboa pela Carris e Metro, é bastante acima do prestado nas áreas ditas suburbanas.
    Mas é indiscutível que a bicicleta é parte da solução dum problema que tem nos TP o âmago da questão.

    ResponderEliminar
  2. Concordo com sicbybikeday. Como visitante esporádico de Lisboa, pesa sempre bastante no bolso uns dias a utilizar transportes públicos sem ter um passe mensal (como tinha quando vivia por esses lados). Daí que tenha começado a optar pela bicicleta como meio habitual de transporte.
    E partilho a impressão, sem tanto conhecimento em primeira mão, de que fora de Lisboa os preços ficam ainda piores... A privatização de um serviço público provoca muitas vezes um desalinhamento de interesses e objectivos: as empresas privadas querem maximizar o lucro, não o bem comum, a mobilidade, ou a satisfação dos eleitores...

    ResponderEliminar
  3. Hoje há sardinhas, amanhã não sei30 de agosto de 2010 às 15:33

    A situação do preço é muita chata, mas o pior é que a Câmara e o Governa não parecem nada com vontade de investir no transporte público!
    Nem em tirar os carros da rua porque as agências de comunicação devem dizer que isso não dá votos!
    Veja-se o Sá Fernandes... fala fala, mas aquela barriga vê-se mesmo que não é de fazer exercício!!!

    ResponderEliminar
  4. Falei especialmente do preço porque, num primeiro contacto, um utilizador não regular provavelmente vai comprar bilhete a bordo. E chegar às mesmas conclusões que eu. E na próxima vez vai de carro, quase de certeza.

    Fica difícil contrariar a noção geral, errada, de que só anda de transportes quem é um desgraçado que não tem dinheiro para o carro... Não digo que seja fácil, mas as transportadoras têm que contrariar esta tendência, só que são as primeiras a fazerem o utente sentir-se pouco desejado, como hão as coisas de mudar assim?

    ResponderEliminar
  5. O comentário do "sicbybikeday" já expressa o que penso sobre o assunto. Assim sendo, permite-me um comentário mais marginal e de menor interesse público mas que me deixou intrigado:
    Vendeste a Indiana????????????????

    ResponderEliminar
  6. Er... sim. Esteve à venda no ScooterPT dois dias.

    ResponderEliminar