quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Ciclovias do Sul

Com o país a banhos, este vosso escriba teve também a oportunidade de rumar a Sul, para uns dias de mar e sol. Como de costume, não pude deixar de reparar nas ciclovias locais. Em Vilamoura, onde fiquei instalado, nota-se que existiu nos últimos anos uma clara preocupação em criar vias clicáveis, dos mais variados tipos. Desde a berma da estrada pintada de vermelho a passeios transformados em pistas mistas, há de tudo um pouco na zona, incluído a tão falada Ecovia* do Algarve.




Infelizmente, mesmo sendo Vilamoura uma espécie de parque temático criado artificialmente nas últimas décadas em redor da marina, uma "Summerland" para os abastados, as soluções criadas para acomodar o tráfego de bicicletas são aqui as mesmas que podemos encontrar noutras partes do país. Essencialmente, a maioria dos troços cicláveis foram feitos às custas dos passeios, ou são vias partilhadas criadas de raiz. Isto implica menos segurança tanto para os peões como para os ciclistas, e obriga quem se desloca de bicicleta a fazê-lo a velocidades muito moderadas, o que reduz as vantagens do uso deste meio de transporte. De notar que alguns espaços apresentados como pista para bicicletas são totalmente inapropriados para tal uso.


"Ciclovia" desenhada em cima de um passeio...


...partilhada com peões e, claro, pópós




Ciclo-faixa na estrada


Ciclovia partilhada, segregada da estrada


Mais uma vez, como sucede por esse Portugal fora, parece haver a vontade de apresentar obra feita, com muitos sinais com bicicletas desenhadas, talvez dando um ar de progresso e preocupação com o meio ambiente. No entanto, na prática, não parecem existir conhecimentos (ou vontade?) para tornar mais fácil o uso da bicicleta, parecendo estar os esforços mais virados para retirar os ciclistas da estrada, para longe da circulação automóvel, que por aqui atinge, no verão, proporções gigantescas. Numa terra de aparência cuidada, e apesar das vias de várias faixas de rodagem, dos muitos parques de estacionamento, e da boa sinalização, Vilamoura é palco de engarrafamentos constantes, estacionamento selvagem indiscriminado, até em frente aos grandes hotéis, e todo o tipo de abusos (que escapam impunes) a que estamos acostumados em Lisboa.


Max. 30 km/h e passadeiras sobrelevadas. Muito poucos as respeitam


Aqui o carro fica mesmo à porta. E não estorva ninguém, 'tá a ver?


Se é assim em Vilamoura, em terras mais proletárias como a vizinha Quarteira as coisas são ainda piores. Isso não impede que o uso da bicicleta no Algarve seja muito mais vulgar que em Lisboa. Por tradição local ou por força da presença de muitos estrangeiros que não partilham da "vergonha" lusitana de se deslocarem num veículo sem motor, a verdade é que, com ou sem ciclovias (e pseudo-ciclovias) é fácil encontrar bicicletas estacionadas e pessoas a deslocarem-se de bicicleta um pouco por todo o lado.


Estacionamento na Praia


 
Na marina de Vilamoura convivem carros de luxo e bicicletas



Bicicletas um pouco por todo o lado


*Sobre a Ecovia, que é suposto ser um trajecto de mais de 200 km, reservado a bicicletas, ligando o Algarve de Este a Oste, tudo indica que se trata de um mito. Muita gente fala nela, mas tanto quanto consegui perceber, o que existe de momento são troços dispersos, feitos cada um à sua maneira pela autarquia local, a maior parte sem grandes condições. Perto de uma praia em Vilamoura vi a entrada para uma parte do percurso. Enquanto fotografava a descoberta, fui intimado a sair do caminho por um automóvel que lá queria entrar, talvez, percebi depois, para se juntar aos outros pópós que por lá andavam. Perdi logo a vontade de conhecer esta "eco-via".


Eco-via??

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